opiniões - 22out2005
Ruy Carlos Ostermann
Todo sábado
De fato, a vantagem de ser segundo vai favorecer, na tese e nas probabilidades, a desejada promoção do Grêmio à Série A: estréia em casa, evita o clássico Santa x Náutico na última rodada, e a estratégia dos dois jogos seguidos fora é a de trazer para o Olímpico a decisão antes da última rodada. Conjeturas, possibilidades, quase fatos. Mas não há dúvida de que o jogo desta tarde no Olímpico, embora seja o primeiro de seis do quadrangular, é quase decisivo. Se o time de Mano Menezes vence, e faz escore, porque é preciso considerar logo o saldo de gols, o time pode embalar. Os jogos fora podem ser de preservação. Grêmio, Náutico, Santa Cruz e Portuguesa têm chances iguais, mostrou o professor Tristão Garcia, ontem, no Sala. Não há favorito, é tudo jogo, e torcida.
Segredo
O treino de ontem foi secreto, um recurso a que os técnicos podem recorrer, afinal o Náutico está em Porto Alegre desde a quinta-feira. Portanto, vê, escuta, pergunta. Mas o segredo atrás dos portões fechados vaza, basta ouvir os jogadores. O que já se sabe: que foram treinadas cobranças de falta, posicionamento dos jogadores na bola de ataque e na defensiva, formação de barreira, etc. E a posição do jovem Lucas, a grande novidade do time em substituição a Sandro. Nele estão várias esperanças legítimas do torcedor. Chamam-no de Falcãozinho - é loiro, alto e magro, muito técnico -, mas há quem prefira lembrar-se de Marinho Chagas. De qualquer modo, dois insignes.
Anderson
Mas é também o jogo da volta de Anderson, o prodígio que opera nesse espaço dos melhores jogadores de futebol do mundo: entre o meio-campo e o ataque. Assim jogam, só para lembrar, Ronaldinho, Kaká, Beckham, Zidane. É onde as jogadas tomam forma que pode desembocar num ataque frontal ou pelos flancos. O time do Grêmio vai ganhar muito com ele, ganha em velocidade, invenção e contundência, e mais vai ganhar se Anderson ficar de frente para o campo do Náutico.
Chances
O clássico Juventude x Inter começa às 18h10min, é decisivo para os dois por razões bem opostas e reconhecidas. O Corinthians detém 77% das chances de ser campeão contra nove do Inter, apud Tristão Garcia. É um abismo decretado pela intervenção do STJD e que só pode ser corrigido pela continuidade dos 11 jogos sem derrota, mas agora com a conveniência de que sejam vitórias as etapas de preservação dessa elogiosa invencibilidade. Só assim, e com derrotas do Corinthians, essa desproporção das chances pode se modificar na etapa final do Brasileirão.
Ricardinho
Muricy fala em meia-armador, e cita Ricardinho como o único de que dispõe para dar o dinamismo indispensável do meio-de-campo. Meia-armador é conceito antigo, mas basta citar alguns e se pode perceber que eles atualizam a matéria: o Ricardinho, do Santos, o Danilo, do São Paulo, o Roger, do Corinthians, uma dúzia. São jogadores que propiciam o pensamento e a inteligência dos seus times, constroem um tempo de bola, que é exatamente o espaço da reflexão. E Ricardinho acrescenta a essas considerações que sabe fazer um chute forte e de longa distância, uma virtude rara no futebol brasileiro.
Wianey Carlet
22/10/2005
Paixão sem divisão
Lotação máxima, não se espera menos para o jogo desta tarde, no Olímpico. Seria um fato normal se o Grêmio estivesse decidindo, por exemplo, o título da Libertadores da América, Campeonato Brasileiro da Série A ou, ainda da Copa do Brasil. Nada disso. Sequer estará em disputa uma das duas vagas para a principal competição brasileira. Hoje, no Olímpico, o Grêmio começa a brigar pelo seu retorno ao paraíso do futebol brasileiro, após penar, pela segunda vez, no purgatório da segundona. Será, apenas, o primeiro jogo do quadrangular final. E o estádio estará lotado. O rebaixamento não encolheu a paixão gremista.
* * *
A CBF organiza e administra três competições nacionais: os campeonatos das séries A, B e C. A média de público pagante nos três certames é esta:
Série A – 13.391 torcedores pagantes por jogo
Série B – 6.966 torcedores pagantes por jogo
Série C – 2.710 torcedores pagantes por jogo.
No ranking das competições, a hierarquia está preservada.
* * *
Porém, na classificação do público médio por clubes, acontece uma grandiosa inversão, assim:
1º lugar: Remo, Série C – 29.585 pagantes por jogo
2º lugar: Corinthians, Série A – 24.648 por jogo
3º lugar: Santa Cruz, Série B – 18.208 por jogo
* * *
A dupla Gre-Nal está muito bem situada nas suas séries. O Grêmio é, até este sábado, o vice-líder em público com uma média de 17.954 pagantes por jogo. Na Série A, o Inter ocupa a quinta posição com a média de 17.412 pagantes por jogo. Os colorados poderão alegar que a sua média diminuiu, um pouco, pela anulação dos jogos.
* * *
Os números estão demonstrando que, para o torcedor, não importa a grandeza da competição da qual participa o seu clube. A sua fidelidade não diminui. O que pesa, mesmo, é o objetivo a ser alcançado. E, obviamente, a qualidade da campanha desenvolvida.
* * *
Público é essencial para o futebol. Acho, mesmo, que poderia existir uma repescagem, onde os clubes de grandes massas torcedoras receberiam uma segunda chance de não serem rebaixados. Embora, considerando os interesses globais do futebol brasileiro, clubes notáveis pela sua longevidade, tradição e público, acabem valorizando as divisões inferiores.
* * *
O Olímpico vai lotar. O Náutico é o primeiro rival que o Grêmio terá que superar neste seu caminho de retorno. Mais uma vez, o maior espetáculo popular do planeta se imporá às baboseiras perpetradas por homens de muita vaidade e outros de baixos valores morais. O futebol é do povo, sua maior alegria. A eternidade é o seu destino.
* * *
Quando uma maré azul deslizar pelas ruas que levam ao Olímpico, paremos para pensar um pouco sobre o futebol. E como seria o brasileiro sem esta inesgotável fonte de felicidade. E, depois do jogo, que esta mesma onda humana retorne para os seus lares sob o encantamento de uma vitória. Sem exageros. Que este seja uma sábado de muita alegria para os gremistas. Já os colorados, para estes está reservado um clássico na Serra. Inter e Juventude, esta tarde, no Alfredo Jaconi, alguém acredita em menos do que estádio cheio?
Bola Dividida
Mário Marcos de Souza - 22/10/2005
A maior surpresa das Copas
Em meio à festa de despedida, na véspera da viagem de uma improvisada seleção norte-americana ao Brasil, um dos líderes da comunidade de italianos da pequena The Hill, na Saint Louis dos anos 40/50, chamou um dos jogadores a sua mesa.
- Quer saber por que o futebol é o maior espetáculo da terra? - perguntou, e passou a falar ao atacante Pee Wee, um herói de guerra, sobre o aspecto democrático do esporte e, principalmente, de tornar possível a vitória mesmo para aqueles menos agraciados pelo talento.
Poucos dias depois da conversa com Fiora Abruzzo, já na distante Belo Horizonte, Pee Wee entenderia melhor todo o significado daquela conversa na noite quente do sul dos EUA.
* * *
A equipe americana, formada por cozinheiros, balconistas e agentes funerários, inteiramente amadora, reunida e treinada em apenas três semanas, seria responsável pela maior surpresa da história das Copas, uma inacreditável vitória de 1 a 0 sobre a Inglaterra em 1950. O fascínio de que só o futebol é capaz, bem como falou Abruzzo na conversa com seu jovem amigo...
Foto(s): reprodução/ZH
...Como ocorre com todos os personagens da história americana, o feito daquele grupo de amigos, que trabalhava durante a semana, comparecia à igreja e namorava aos sábados e domingos, virou filme. Lançado este ano, discretamente, Duelo de Campeões chegou direto às prateleiras das locadoras de vídeo. O nome original - O Jogo de suas Vidas (The Game of their Lives) - é muito melhor e mais fiel à história, mas vá entender as razões dos tituladores no Brasil. O que importa é que o filme, se não é uma obra-prima, ao menos recupera com fidelidade um dos episódios mais empolgantes da história das Copas.
* * *
Para quem gosta de esporte e costuma garimpar nas prateleiras das locadoras histórias destes momentos de superação, o filme é imperdível - até porque desta vez o destaque é o futebol tão familiar aos brasileiros.
- Passamos tanto tempo juntos, que no fim éramos um time - surpreende-se o diretor David Anspaugh, ao falar sobre o trabalho de filmagens, que incluiu um bom período passado no Brasil.
* * *
Anspaugh trouxe atores e técnicos ao Brasil em 2003, transformou as Laranjeiras, o estádio do Fluminense, no Independência, de Belo Horizonte, reuniu 3 mil extras e reproduziu lá a histórica partida contra os ingleses. Teve de superar algumas dificuldades, claro. Diante daqueles atores desajeitados, nem sempre a platéia de brasileiros, que deveria se comportar como se estivesse em 1950, resistia - e vaiava os jogadores.
- Imaginem o que é estar diante de pessoas que amam o futebol - lembra com bom humor nos extras do DVD o ator Gerard Butler, que no filme faz o papel do goleiro Frank Borghi, um dos heróis do time (na foto, os atores como na formação de 1950). - Chegou um momento em que alguém da produção teve de pedir ao público que não esquecesse de que eu não era goleiro.
* * *
Butler não foi o único a sofrer. Sempre que pegava a bola - e brigava com ela - o ator Jimmy Jean-Louis, um haitiano que faz o papel do centroavante Joe Gaetjens, ouvia a torcida gritar "tira o negrão". Ele é um dos destaques da história. Jean-Louis era cozinheiro em Nova York até ser convidado para jogar pela seleção. Acabou sendo o autor do gol da vitória aos 38 minutos daquele jogo do dia 29 de junho de 1950.
* * *
Vale a pena assistir. Além de se comover com uma história com jeito de ficção, você vai se perguntar por que o cinema brasileiro ainda é modesto ao explorar um universo fascinante como o do futebol. Os alemães nos mostraram há pouco O Milagre de Berna, os americanos chegam com Duelo de Campeões, há inúmeros casos de personagens de outros esportes já levados para as telas, por que então os cineastas daqui só há pouco começaram a se interessar pelo tema? Personagens não faltam. Um jogador com a vida de Heleno de Freitas, por exemplo, um estilista que morreu jovem, sifilítico, abraçado a uma bola de futebol, já teria virado filme candidato a Oscar se fosse americano. Aqui é ignorado. Os cineastas ainda não descobriram o fascínio que já nos anos 40 fez um velho morador de Saint Louis dizer a seu jovem amigo da seleção que o futebol era o maior espetáculo da terra. Imaginem o que ele diria agora.
Todo sábado
De fato, a vantagem de ser segundo vai favorecer, na tese e nas probabilidades, a desejada promoção do Grêmio à Série A: estréia em casa, evita o clássico Santa x Náutico na última rodada, e a estratégia dos dois jogos seguidos fora é a de trazer para o Olímpico a decisão antes da última rodada. Conjeturas, possibilidades, quase fatos. Mas não há dúvida de que o jogo desta tarde no Olímpico, embora seja o primeiro de seis do quadrangular, é quase decisivo. Se o time de Mano Menezes vence, e faz escore, porque é preciso considerar logo o saldo de gols, o time pode embalar. Os jogos fora podem ser de preservação. Grêmio, Náutico, Santa Cruz e Portuguesa têm chances iguais, mostrou o professor Tristão Garcia, ontem, no Sala. Não há favorito, é tudo jogo, e torcida.
Segredo
O treino de ontem foi secreto, um recurso a que os técnicos podem recorrer, afinal o Náutico está em Porto Alegre desde a quinta-feira. Portanto, vê, escuta, pergunta. Mas o segredo atrás dos portões fechados vaza, basta ouvir os jogadores. O que já se sabe: que foram treinadas cobranças de falta, posicionamento dos jogadores na bola de ataque e na defensiva, formação de barreira, etc. E a posição do jovem Lucas, a grande novidade do time em substituição a Sandro. Nele estão várias esperanças legítimas do torcedor. Chamam-no de Falcãozinho - é loiro, alto e magro, muito técnico -, mas há quem prefira lembrar-se de Marinho Chagas. De qualquer modo, dois insignes.
Anderson
Mas é também o jogo da volta de Anderson, o prodígio que opera nesse espaço dos melhores jogadores de futebol do mundo: entre o meio-campo e o ataque. Assim jogam, só para lembrar, Ronaldinho, Kaká, Beckham, Zidane. É onde as jogadas tomam forma que pode desembocar num ataque frontal ou pelos flancos. O time do Grêmio vai ganhar muito com ele, ganha em velocidade, invenção e contundência, e mais vai ganhar se Anderson ficar de frente para o campo do Náutico.
Chances
O clássico Juventude x Inter começa às 18h10min, é decisivo para os dois por razões bem opostas e reconhecidas. O Corinthians detém 77% das chances de ser campeão contra nove do Inter, apud Tristão Garcia. É um abismo decretado pela intervenção do STJD e que só pode ser corrigido pela continuidade dos 11 jogos sem derrota, mas agora com a conveniência de que sejam vitórias as etapas de preservação dessa elogiosa invencibilidade. Só assim, e com derrotas do Corinthians, essa desproporção das chances pode se modificar na etapa final do Brasileirão.
Ricardinho
Muricy fala em meia-armador, e cita Ricardinho como o único de que dispõe para dar o dinamismo indispensável do meio-de-campo. Meia-armador é conceito antigo, mas basta citar alguns e se pode perceber que eles atualizam a matéria: o Ricardinho, do Santos, o Danilo, do São Paulo, o Roger, do Corinthians, uma dúzia. São jogadores que propiciam o pensamento e a inteligência dos seus times, constroem um tempo de bola, que é exatamente o espaço da reflexão. E Ricardinho acrescenta a essas considerações que sabe fazer um chute forte e de longa distância, uma virtude rara no futebol brasileiro.
Wianey Carlet
22/10/2005
Paixão sem divisão
Lotação máxima, não se espera menos para o jogo desta tarde, no Olímpico. Seria um fato normal se o Grêmio estivesse decidindo, por exemplo, o título da Libertadores da América, Campeonato Brasileiro da Série A ou, ainda da Copa do Brasil. Nada disso. Sequer estará em disputa uma das duas vagas para a principal competição brasileira. Hoje, no Olímpico, o Grêmio começa a brigar pelo seu retorno ao paraíso do futebol brasileiro, após penar, pela segunda vez, no purgatório da segundona. Será, apenas, o primeiro jogo do quadrangular final. E o estádio estará lotado. O rebaixamento não encolheu a paixão gremista.
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A CBF organiza e administra três competições nacionais: os campeonatos das séries A, B e C. A média de público pagante nos três certames é esta:
Série A – 13.391 torcedores pagantes por jogo
Série B – 6.966 torcedores pagantes por jogo
Série C – 2.710 torcedores pagantes por jogo.
No ranking das competições, a hierarquia está preservada.
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Porém, na classificação do público médio por clubes, acontece uma grandiosa inversão, assim:
1º lugar: Remo, Série C – 29.585 pagantes por jogo
2º lugar: Corinthians, Série A – 24.648 por jogo
3º lugar: Santa Cruz, Série B – 18.208 por jogo
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A dupla Gre-Nal está muito bem situada nas suas séries. O Grêmio é, até este sábado, o vice-líder em público com uma média de 17.954 pagantes por jogo. Na Série A, o Inter ocupa a quinta posição com a média de 17.412 pagantes por jogo. Os colorados poderão alegar que a sua média diminuiu, um pouco, pela anulação dos jogos.
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Os números estão demonstrando que, para o torcedor, não importa a grandeza da competição da qual participa o seu clube. A sua fidelidade não diminui. O que pesa, mesmo, é o objetivo a ser alcançado. E, obviamente, a qualidade da campanha desenvolvida.
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Público é essencial para o futebol. Acho, mesmo, que poderia existir uma repescagem, onde os clubes de grandes massas torcedoras receberiam uma segunda chance de não serem rebaixados. Embora, considerando os interesses globais do futebol brasileiro, clubes notáveis pela sua longevidade, tradição e público, acabem valorizando as divisões inferiores.
* * *
O Olímpico vai lotar. O Náutico é o primeiro rival que o Grêmio terá que superar neste seu caminho de retorno. Mais uma vez, o maior espetáculo popular do planeta se imporá às baboseiras perpetradas por homens de muita vaidade e outros de baixos valores morais. O futebol é do povo, sua maior alegria. A eternidade é o seu destino.
* * *
Quando uma maré azul deslizar pelas ruas que levam ao Olímpico, paremos para pensar um pouco sobre o futebol. E como seria o brasileiro sem esta inesgotável fonte de felicidade. E, depois do jogo, que esta mesma onda humana retorne para os seus lares sob o encantamento de uma vitória. Sem exageros. Que este seja uma sábado de muita alegria para os gremistas. Já os colorados, para estes está reservado um clássico na Serra. Inter e Juventude, esta tarde, no Alfredo Jaconi, alguém acredita em menos do que estádio cheio?
Bola Dividida
Mário Marcos de Souza - 22/10/2005
A maior surpresa das Copas
Em meio à festa de despedida, na véspera da viagem de uma improvisada seleção norte-americana ao Brasil, um dos líderes da comunidade de italianos da pequena The Hill, na Saint Louis dos anos 40/50, chamou um dos jogadores a sua mesa.
- Quer saber por que o futebol é o maior espetáculo da terra? - perguntou, e passou a falar ao atacante Pee Wee, um herói de guerra, sobre o aspecto democrático do esporte e, principalmente, de tornar possível a vitória mesmo para aqueles menos agraciados pelo talento.
Poucos dias depois da conversa com Fiora Abruzzo, já na distante Belo Horizonte, Pee Wee entenderia melhor todo o significado daquela conversa na noite quente do sul dos EUA.
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A equipe americana, formada por cozinheiros, balconistas e agentes funerários, inteiramente amadora, reunida e treinada em apenas três semanas, seria responsável pela maior surpresa da história das Copas, uma inacreditável vitória de 1 a 0 sobre a Inglaterra em 1950. O fascínio de que só o futebol é capaz, bem como falou Abruzzo na conversa com seu jovem amigo...
Foto(s): reprodução/ZH
...Como ocorre com todos os personagens da história americana, o feito daquele grupo de amigos, que trabalhava durante a semana, comparecia à igreja e namorava aos sábados e domingos, virou filme. Lançado este ano, discretamente, Duelo de Campeões chegou direto às prateleiras das locadoras de vídeo. O nome original - O Jogo de suas Vidas (The Game of their Lives) - é muito melhor e mais fiel à história, mas vá entender as razões dos tituladores no Brasil. O que importa é que o filme, se não é uma obra-prima, ao menos recupera com fidelidade um dos episódios mais empolgantes da história das Copas.
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Para quem gosta de esporte e costuma garimpar nas prateleiras das locadoras histórias destes momentos de superação, o filme é imperdível - até porque desta vez o destaque é o futebol tão familiar aos brasileiros.
- Passamos tanto tempo juntos, que no fim éramos um time - surpreende-se o diretor David Anspaugh, ao falar sobre o trabalho de filmagens, que incluiu um bom período passado no Brasil.
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Anspaugh trouxe atores e técnicos ao Brasil em 2003, transformou as Laranjeiras, o estádio do Fluminense, no Independência, de Belo Horizonte, reuniu 3 mil extras e reproduziu lá a histórica partida contra os ingleses. Teve de superar algumas dificuldades, claro. Diante daqueles atores desajeitados, nem sempre a platéia de brasileiros, que deveria se comportar como se estivesse em 1950, resistia - e vaiava os jogadores.
- Imaginem o que é estar diante de pessoas que amam o futebol - lembra com bom humor nos extras do DVD o ator Gerard Butler, que no filme faz o papel do goleiro Frank Borghi, um dos heróis do time (na foto, os atores como na formação de 1950). - Chegou um momento em que alguém da produção teve de pedir ao público que não esquecesse de que eu não era goleiro.
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Butler não foi o único a sofrer. Sempre que pegava a bola - e brigava com ela - o ator Jimmy Jean-Louis, um haitiano que faz o papel do centroavante Joe Gaetjens, ouvia a torcida gritar "tira o negrão". Ele é um dos destaques da história. Jean-Louis era cozinheiro em Nova York até ser convidado para jogar pela seleção. Acabou sendo o autor do gol da vitória aos 38 minutos daquele jogo do dia 29 de junho de 1950.
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Vale a pena assistir. Além de se comover com uma história com jeito de ficção, você vai se perguntar por que o cinema brasileiro ainda é modesto ao explorar um universo fascinante como o do futebol. Os alemães nos mostraram há pouco O Milagre de Berna, os americanos chegam com Duelo de Campeões, há inúmeros casos de personagens de outros esportes já levados para as telas, por que então os cineastas daqui só há pouco começaram a se interessar pelo tema? Personagens não faltam. Um jogador com a vida de Heleno de Freitas, por exemplo, um estilista que morreu jovem, sifilítico, abraçado a uma bola de futebol, já teria virado filme candidato a Oscar se fosse americano. Aqui é ignorado. Os cineastas ainda não descobriram o fascínio que já nos anos 40 fez um velho morador de Saint Louis dizer a seu jovem amigo da seleção que o futebol era o maior espetáculo da terra. Imaginem o que ele diria agora.
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