inter

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

São Paulo e Inter consagram criticado modelo exportador

   Formar jogadores, vender e fazer dinheiro. Com esse dinheiro, buscar (e tentar manter) jogadores de equipes menores e repatriar atletas em fim de ciclos no exterior. O que parece um contrasenso é o modelo que vem dando certo para os dois clubes mais bem-sucedidos do Brasil hoje, São Paulo e Internacional, que neste domingo se enfrentam às 16h, no Morumbi, em jogo que vale a liderança do Campeonato Brasileiro.
   Vencedores das duas últimas edições da Taça Libertadores da América, os clubes, muitas vezes apontados como exemplos de gestão esportiva no panorama brasileiro, usam o criticado expediente da exportação de "pé de obra" para fazer caixa.
   Com a receita gerada pela revelação de valores, constróem, curiosamente, times que muitas vezes aproveitam poucos jogadores da base. No caso do São Paulo atual, por exemplo, apenas o zagueiro Edcarlos, entre os titulares, foi formado no próprio clube.
   Mas é de jovens talentos, como o volante Denílson, 18, vendido recentemente para o Arsenal por nada menos do que US$ 6,5 milhões (cerca de R$ 14 milhões), que o clube tira dinheiro para, por exemplo, manter o veterano volante Mineiro, jogador que peregrinou por equipes menores antes de chegar ao Morumbi e que atualmente discute sua renovação de contrato.
   Segundo o diretor de planejamento do clube paulista, João Paulo Lopes, a importância da negociação de atletas tem diminuído, mas ainda responde por 24% da receita da equipe.
   Assim como acontece com o adversário de hoje, grande parte dos ganhos do São Paulo no "mercado da bola" são originados de suas categorias de base, que custam R$ 4,3 milhões por ano, mas que, segundo Lopes, geram em média R$ 21,5 milhões.
   "Um clube formador, com estruturas para a categoria de base de boa qualidade é rentável", disse o dirigente, que também afirmou que as negociações de atletas renderam R$ 236,5 milhões aos cofres do time nos últimos 11 anos.
   Campeão da Libertadores-06 após derrotar o São Paulo na decisão, o Internacional também se apóia nos jovens oriundos de sua categoria de base para manter um time competitivo.
   Principal destaque do time que conquistou o torneio sul-americano, o atacante Rafael Sóbis foi o último exemplo desta política. O jogador foi negociado com o Betis, da Espanha, que também levou Jorge Wágner. Além deles, Bolívar foi para o Monaco e Tinga para o Borussia Dortmund, completando o desmanche gaúcho.
   Para repor as peças perdidas e se manter na disputa do Nacional, o Internacional seguiu o seu planejamento e "subiu" atletas de sua categoria base, contratou "estrangeiros" (Pinga, Hidalgo e Vargas) e procurou novos talentos no mercado local (Wellington Pereira).
   A "reciclagem do elenco" através da venda de um ou dois atletas por ano está, inclusive, prevista no orçamento do Inter, que conta com este dinheiro para neutralizar o déficit mensal do departamento de futebol, que segundo o presidente do clube, Fernando Carvalho, é de cerca de R$ 600 mil.
   Apesar de ter revelado também Nilmar e Daniel Carvalho nos últimos anos, o Inter vive agora uma entressafra em suas categorias de base, tanto que não deve escalar nenhum atleta de "produção própria" no jogo de hoje.
   A nova aposta gaúcha para reforçar o caixa é o garoto Alexandre Pato, de apenas 17 anos. Mesmo no time B do Internacional, o jogador já teria despertado o interesse do Arsenal, o que pode forçar o técnico Abel Braga a utilizá-lo em um futuro próximo.
   Enquanto não vende o seu novo talento, a equipe do Sul do país usa o dinheiro do desmanche do time da Libertadores para manter uma nova base, composta basicamente por atletas com menor espaço no mercado, mas capaz de disputar títulos e ter papel de destaque nas competições que disputa.
   "O nosso planejamento é para duas, três temporadas. Fazemos contratos longos com os jogadores que contratamos", afirmou Carvalho, que assumiu a presidência do time em 2002 prometendo deixar a equipe no topo até 2009, ano do centenário da equipe.