Clemer: um líder sem fazer média

Desde 2002 no Sul, Clemer conhece como poucos a dura caminhada do Inter cheio de dívidas de quatro anos atrás até a construção do atual time finalista da Libertadores. O goleiro é o único que presenciou todo o período de mudança do clube e tornou-se uma referência no Colorado.
Criticado por uns, respeitado por outros, ele se consagrou nesta quarta-feira como um dos pilares do campeão da América com o empate por 2 a 2 em cima do São Paulo.
Aos 37 anos, Clemer não faz a mínima questão de ter a badalação de outros goleiros, como é o caso de Rogério Ceni, e poderia até estar planejando o final de sua carreira. Mas seu pensamento é justamente o contrário. Em boa fase, ele ainda se sente muito motivado em jogar futebol. Por isso, deixa um recado: ninguém irá aposentá-lo antes da hora.
Em entrevista exclusiva para a GE.Net na véspera da decisão, Clemer abordou assuntos sobre sua história no futebol, as lições principalmente com a camisa da Portuguesa e o início duro com o Internacional depois de uma passagem difícil pelo Flamengo, onde foi reserva por muito tempo.
Apesar de toda a experiência, Clemer não esconde uma mágoa e até uma sensação de que foi injustiçado pelos críticos. Afinal, para ele, seu desempenho não deve ser classificado como abaixo da média em relação à maioria dos jogadores de sua posição no Brasil.
Gazeta Esportiva Net: Você está no Beira-Rio há quatro anos e viu uma mudança total do clube. Como foi esse processo de reconstrução do Inter?
Clemer: Cheguei em 2002 do Flamengo e a situação do clube era muito ruim. Acho que tivemos um time de jogadores que não respeitavam a camisa do Internacional. O clube estava totalmente desestruturado. Quase caímos para a segunda divisão, só nos salvamos na última rodada contra o Paysandu. Foi um aprendizado para todos, e o clube foi crescendo. Aí veio o Muricy, que contratou jogadores de qualidade e só evoluímos.
GE.Net: Como o único que acompanhou este ciclo, o que representa esta possível conquista da Libertadores?
Clemer: É o jogo mais importante da minha vida. Apesar de toda a minha idade, ainda sinto uma ansiedade, um frio na barriga e esta expectativa pela chegada do jogo. Mas na hora tenho certeza de que tudo volta ao normal e poderei fazer uma boa partida.
GE.Net: Embora tenha o reconhecimento da direção do Inter, você já foi muito questionado por falhas. Como vê isso?
Clemer: Sabe o que acontece, às vezes as pessoas não agradam a todos. Os outros me olham e me acham carrancudo. Não sou de dar risada para todo mundo e isso fica mascarado. As pessoas precisam me elogiar pelo meu trabalho, não por ser agradável. O meu jeito é assim e não vou mudar. As críticas vêm e são direcionadas. Se vocês anotarem as falhas de outros goleiros e perceberem o que as pessoas fazem para encobri-las, notarão o que estou falando. Se fosse ligar, eu teria abandonado a carreira. O importante é que estou consciente do meu trabalho. Quando venho treinar, não é para brincar.
GE.Net: Aos 37 anos, o que você pensa sobre o futuro da sua carreira? O Renan já pode ser visto como seu sucessor?
Clemer: Não penso em parar agora. Você só pode pensar em parar quando não tem mais condições de desempenhar sua função. Isso não está ocorrendo comigo. Eu me cuido muito. Treino até mais que a garotada. Isso me dá forças para continuar no futebol. Em relação ao Renan, ao Marcelo, são atletas que trabalham duro e têm tudo para crescer no clube.
GE.Net: Você é um dos líderes do grupo. Qual sua participação com os mais jovens?
Clemer: O trabalho que faço aqui no Internacional é no sentido de ajudar meus companheiros, procurando fazer de tudo para chegarmos aos títulos, mostrando aos mais jovens como um profissional se posiciona dentro e fora de campo da forma mais correta.
GE.Net: Você passou por três momentos importantes na carreira: o vice-campeonato brasileiro com a Portuguesa em 1996, a vitória na Copa Mercosul de 1999 com o Flamengo e agora esta final da Libertadores. Qual a relação de tudo isso?
Clemer: É difícil relacionar isso. Acho que o tricampeonato estadual com o Flamengo, que você não colocou, foi muito bom, em cima do nosso maior rival que era o Vasco. Na Portuguesa faltou pouco para ser campeão, como ano passado, que tiraram nosso título (do Campeonato Brasileiro). Este ano, o Inter manteve o trabalho e estamos chegando à uma final de Libertadores com possibilidade de sermos campeões brasileiros também.
GE.Net: Você falou sobre os tempos de Portuguesa. O que pode ser tirado de lição daquela derrota de 1996, quando o time venceu o primeiro jogo na final do Brasileirão e acabou perdendo o título no Olímpico?
Clemer: Foi uma situação diferente. Fizemos o primeiro jogo em casa. Agora, já temos uma vantagem adquirida fora de casa. Estou em um time de tradição, de peso. A Portuguesa nunca havia chegado à uma decisão como aquela. Foi um time bem feito, montado pelo Candinho, que me ajudou bastante.
GE.Net: Você já elogiou bastante o Rogério Ceni. Só que lembro que você também já marcou um gol de pênalti pela Portuguesa contra o Kaburé, em uma Copa do Brasil (vitória da Portuguesa por 8 a 0, em 4 de março de 1997). Você pode arriscar uma cobrança, caso seja necessário?
Clemer: Isso é verdade, eu lembro sim. Se precisar, vou ter que bater (risos). Mas não sou muito disso, não. Deixo para o pessoal que tem mais qualidade, enquanto tento fazer o meu lá atrás.
GE.Net: O que você guarda de bom e ruim no futebol?
Clemer: O futebol só me deu alegria. Não tive grandes problemas, só alguns que se aproveitam de alguma situação para fazer algumas críticas. É normal em nossa sociedade. Tem que conviver, pois sou uma pessoa pública.
GE.Net: Por que você acha que o Internacional será campeão?
Clemer: Pela raça. Somos um time de muita raça e determinação dentro de campo. Posso garantir que o objetivo está traçado, e vamos em busca dele.
GE.Net: O Inter já teve palestras motivacionais com o (consultor) Evandro Mota. Tem algo programado para esta final?
Clemer: As palestras dele são excelentes, sempre mexem com todo mundo, principalmente momentos antes do jogo. Isso ajuda bastante. Mas não tem nada especial para essa partida.
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